Quase Escrito II
Um
Jeito básico de evitar a falácia nos púlpitos
Continuamos a reflexão sobre o
problema de achar que um pensamento ou ideia de um pastor, líder religioso
evangélico ou denominação, pode ser considerado uma doutrina Bíblica pela simples ação de mostrar um texto bíblico como prova. Já se sabe que utilizar de
textos isolados para criar regras em denominações e ministérios, não só promove
com o tempo confusões e divisões diversas, como é uma forma de cometer injustiça quanto a vida de uma pessoa que será
levado a obediência acreditando que estará se aproximando de Deus,
quando
apenas está obedecendo normas ministeriais. Se o individuo é convicto e decide
viver assim, é uma opção sua, tudo bem, pois não estará sendo enganado quanto
as normas da denominação e o mesmo aceitou o fardo. Porém ao contrário, se o
mesmo acredita que o fardo que lhe é imposto é uma doutrina Bíblica, por assim
lhe ensinarem, o prejuízo pode ser grande, tanto na carne como no psique do fiel e membro
de uma igreja. O caso piora em grau elevado quando o grupo de fieis, passa
a acreditar que outros grupos por não seguirem suas normas "sacras", estão errados, e não são dignos de comungar da mesma fé.
Como evitar este erro, se os que
cometem acreditam que estão cumprindo a vontade de Deus? Pois na maioria
dos casos, extraem ou pensam extrair das Escrituras os ensinamentos, por isto a
sentença de pecado de desobediência ao não aceitar algumas normas, pois
acreditam os líderes e ministérios que estão fazendo, ou fizeram a coisa correta.
Para evitar este erro, o obreiro deve ser
aprovado como bom obreiro, o trabalhador do Evangelho de Cristo que está na liderança de uma Igreja,
ministério, não pode ser preguiçoso, pois sendo, não se dedicará aos textos
bíblicos para extrair destes textos a Doutrina que está contida neles. Não
basta ler e pensar que é, pois talvez não seja o que estou pensando, e a igreja
o povo de Deus deve ser instruído no que Deus diz e não no que eu penso por
mais santo que pareça ser meu pensamento, ainda é o pensamento de um homem,
será condicionado a origem, alcance e o tempo e não vai permanecer, e pior,
ainda causará transtornos quando a Palavra for pregada como ela é e derrubar por completo o ensinamento humano que o líder
deixou na congregação. Deus não é “Deus de confusão e sim de Paz”
Qualquer que almeja tomar a
tribuna para doutrinar deve estar ciente que a Palavra de Deus, é a Doutrina, e
não o que ele o obreiro pensa sobre determinado texto bíblico. Para esta
afinação e concordância dar certo, o obreiro deve se humilde e ceder aos Estudos
exaustivos da Palavra de Deus. Deve este obreiro conhecer no mínimo regras
básicas de como interpretar e ler um texto bíblico, para que saiba como e por
onde começar esboçar um ensinamento ao ler um texto da Bíblia. Caso contrário
estará dependendo de algo que é mais difícil de compreender do que as
Escrituras, o que muitos dão o nome de “mistérios do céu”.
Pensemos quanto ao
assunto, se alguém não consegue entender os mistérios já revelados nas
Escrituras, como entenderá os mistérios não revelados ainda? Acaso o Senhor nos
deu As Escrituras Sagradas em vão? São estas Escrituras incompreensíveis, o
Onipotente e Soberano Deus que criou o homem, não soube usar os homens para escrever as Escrituras Sagradas? A
Bíblia é perfeita e totalmente compreensível aos que com ela se importam e se
humilham, e são humildes o suficiente para se por a disposição do Espirito
Santo para serem usados como semeadores das doutrinas bíblicas. Acreditar que se
deve começar pelos mistérios revelados que é a Palavra de Deus, é mostrar-se
sábio, já é um bom começo para ter êxito no ensino das Escrituras.
O Grande professor é e será
sempre o Espirito Santo, e o Pastor, pregador, evangelista ou quem for colocado
para ensinar a Palavra de Deus, será como canal de bênçãos para os servos do
Senhor. Uma Igreja Fundamentada em Cristo e instruída na Palavra de Deus não passará
com modismo, pois modismo são costumes humanos, tem tempo para desaparecer.
Um
exemplo de um ensinamento errado, uma típica confusão feita com doutrina e costumes.
Para aplicarmos o que já discursamos
até este ponto deste texto, irei expor uma doutrina clássica, levada a sério
por muitas igrejas evangélicas, mesmo que alguns ministérios tenham revisto
este erro doutrinário originário de regimento interno, ainda assim, muitas
igrejas, principalmente Assembleias de
Deus mais tradicionais, também algumas pentecostais com controle de uso e costumes
mais rígido, como a denominação Deus é Amor e outras semelhante, seguem com estes ensinamentos, geralmente
a liderança segue como se segue uma fila indiana, quando não se pergunta a
finalidade da fila, isto por motivo de não se importarem em rever de onde
procede ou procedeu o ensinamento.
Este ensinamento que irá ser descrito sempre
esteve presente como uma verdade, mas nada mais é do que um engano quando
atribuído a uma doutrina Bíblica. Apenas um ensinamento humano, que por estar o
tema, em volta a textos bíblicos, tenta-se validar como Doutrina Bíblica. Porém
A doutrina Bíblica deve vencer os três obstáculos aqui já demonstrados, 1º A
Origem, 2ª O Alcance, 3º O Tempo, caso contrário será costume de homens e
costumes não podem ser maiores do que a Bíblia, pois a Bíblia não muda e os
costumes mudam. Segue-se um tema simples que os homens com suas opiniões de
deuses atrapalham o entendimento. Segue o tema em discussão como exemplo de
erro doutrinário e de ensino.
O
uso da barba
Gn 41:14 “Então Faraó mandou
chamar a José, e o fizeram sair à pressa da masmorra; ele se barbeou, mudou de
roupa, e foi apresentar-se a Faraó”
Todo sistema de ensino voltado
para que não se use a barba está a muito tempo ligado a este texto de Gn 41:14.
Temos um personagem que é na história a expressão de um deus quando levado em
consideração sua importância, temos outro personagem que é considerado um servo
e está em dupla inferioridade, pois na história além de ser servo, está como
prisioneiro. Faraó manda que lhe traga José à sua presença, aí temos a clássica
frase: “ele se barbeou, mudou de roupa, e foi apresentar-se a Faraó”,
interpretada da seguinte forma: Se José
se barbeou para entrar na presença de Faraó, ainda mais na presença de
Deus? O argumento é simples e
aparentemente lógico, por muito tempo aceitável entre obreiros, líderes e
ministérios como uma Doutrina Bíblica, mas quanto a se tornar doutrina Bíblica
chega a ser cômico.
Todos que estudam a história
sabem que no Egito nenhuma pessoa podia se apresentar diante de Faraó sem estar
devidamente apresentável e higienizado, mas até aí utilizar deste texto como parâmetro para
ensinar que um homem não pode usar sua barba nos dias atuais, pois é
desobediência ao ministério e estará
desobedecendo a Deus por isto, é no mínimo estranho quando o caso é estudos
sérios das Escrituras, um erro doutrinário. Sabe-se que era costume dos
egípcios não usar barbas; quando muito usavam um pequeno cavanhaque. É
necessário segundo (Hist. Antigua, Barcelona) levar em consideração situações
de higiene. Mas o que este trecho tem haver com uma Doutrina de Santidade ao
Senhor? Ao olhar os outros diversos textos da Bíblia a que se refere à barba,
logo se se percebe que são ignorados totalmente quanto formulação desta
Doutrina ou ensinamento que faz parte de diversas Igrejas Evangélicas
brasileiras.
Vamos ver alguns textos que
mostram que falta aí um pouco de boa vontade de ler mais a Bíblia antes de
criar Doutrinas a mais das que já existem nas Escrituras:
Para os soldados de Davi as
barbas raspadas pelo inimigo foi ato de vergonha junto ao corte das vestes
deixando-os com as nádegas à vista.
“Então
tomou Hanum os servos de Davi, e lhes raspou metade da barba, e lhes cortou
metade das vestes, até às nádegas, e os despediu. Quando isso foi informado a
Davi, enviou ele mensageiros a encontrá-los, porque estavam aqueles homens
sobremaneira envergonhados. Mandou o rei dizer-lhes: Deixai-vos estar em
Jericó, até que vos torne a crescer a barba, e então voltai.”
Os homens considerados santos de
Israel usavam barbas, os Sacerdotes levantados para entrar no santo dos santos,
onde quem estivesse em pecado morreria como diz as Escrituras. Se barba fosse
pecado os sacerdotes não usariam, além de Deus ter avisado a Moisés para que os
sacerdotes não a usassem, se fosse
rebeldia, morreriam com certeza no lugar santíssimo ao oferecer o sacrifício ao
Senhor pelo povo. Basta uma lida sem hermenêutica ou exegese no texto de Salmos
133:1,2 para logo perceber que existe um erro muito gritante em demonizar a
barba de um homem. “Oh! quão
bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a
cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas
vestes.”
Barbear-se nas escrituras se tornou também como figura de linguagem, não para condena-la como barba propriamente dita, mas para demonstração de severo julgamento da parte de Deus, castigo vindo de Deus. O problema fica aclaro hoje com o uso contrário, pois como que o oposto disto poderia ser considerado desobediência a Deus e rebeldia? Mais uma vez basta ler, nada mais, não é necessário ficar quatro anos em um seminário teológico para perceber que a interpretação do tema barba me muitas denominações está totalmente equivocado, se comprova isto em textos do Profeta Isaías e Jeremias:
“Porque
há de acontecer que naquele dia assobiará o Senhor às moscas, que há no extremo
dos rios do Egito, e às abelhas que estão na terra da Assíria; E todas elas
virão, e pousarão nos vales desertos e nas fendas das rochas, e em todos os
espinheiros e em todos os arbustos. Naquele mesmo dia rapará o Senhor com uma
navalha alugada, que está além do rio, isto é, com o rei da Assíria, a cabeça e
os cabelos dos pés; e até a barba totalmente tirará.” Isaías 7:18-20
“E tu, ó filho do homem, toma uma faca afiada, como navalha
de barbeiro, e a farás passar pela tua cabeça e pela tua barba; então tomarás
uma balança de peso, e repartirás os cabelos. Uma terça parte queimarás no
fogo, no meio da cidade, quando se cumprirem os dias do cerco; então tomarás
outra terça parte, e feri-la-ás com uma faca ao redor dela; e a outra terça
parte espalharás ao vento; porque desembainharei a espada atrás deles...5 Assim
diz o Senhor DEUS: Esta é Jerusalém; coloquei-a no meio das nações e das terras
que estão ao redor dela.” Ezequiel 5:1-5
Ao raspar a barba, nas Escrituras
também era como mostrar profunda tristeza, momentos de profundas aflições,
angustias profundas estão ao redor do tema quanto a RASPAR A BARBA, em alguns textos bíblicos, como
no texto de Jeremias a seguir:
“Sucedeu,
pois, no dia seguinte, depois que ele matara a Gedalias, sem ninguém o saber,
Que vieram homens de Siquém, de Siló, e de Samaria; oitenta homens, com a barba rapada, e as vestes rasgadas, e retalhando-se; e trazendo nas suas mãos ofertas e incenso, para levarem à casa do Senhor.” Jeremias 41:4,5
Que vieram homens de Siquém, de Siló, e de Samaria; oitenta homens, com a barba rapada, e as vestes rasgadas, e retalhando-se; e trazendo nas suas mãos ofertas e incenso, para levarem à casa do Senhor.” Jeremias 41:4,5
É por fim se existe uma obrigação
imposta para barbear-se nas Escrituras que implique problemas com a congregação
de Israel, se pode apontar para o caso de leprosos como mais uma vez as Escrituras
deixam claro. Na questão do leproso, este deveria que mostrar-se sem pêlos no corpo
para uma analise correta por parte do sacerdote, afinal era necessário atestar
que o mesmo estaria curado e sem lepra para permitir o retorno do leproso à
vida social. Para saber se estaria mesmo curado da lepra, um corpo coberto de
pêlos dificultaria o exame por parte do sacerdote. O texto também é claro, pois
o Senhor nunca teve intenção de complicar o que realmente queria do seu povo
como obediência, segue o texto:
“E
aquele que tem de purificar-se lavará as suas vestes, e rapará todo o seu pêlo,
e se lavará com água; assim será limpo; e depois entrará no arraial, porém,
ficará fora da sua tenda por sete dias;
E será que ao sétimo dia rapará todo o seu pêlo, a sua cabeça, e a sua barba, e as sobrancelhas; sim, rapará todo o pêlo, e lavará as suas vestes, e lavará a sua carne com água, e será limpo”
Levítico 14:8,9
E será que ao sétimo dia rapará todo o seu pêlo, a sua cabeça, e a sua barba, e as sobrancelhas; sim, rapará todo o pêlo, e lavará as suas vestes, e lavará a sua carne com água, e será limpo”
Levítico 14:8,9
No texto onde se menciona o “fazer a barba”, em nada indica o ato de raspa-la, porém, mais uma vez vemos aí a questão da apresentar-se a frente do Rei, por isto o cuidado, pois seria momento de festa. Deve lembrar o leitor que este Rei é agora Judeu, e o mesmo que fala para que seus soldados deixem suas barbas crescer em 2 Samuel 10:4,5 . “Também Mefibosete, filho de Saul, desceu a encontrar-se com o rei, e não tinha lavado os pés, nem tinha feito a barba, nem tinha lavado as suas vestes desde o dia em que o rei tinha saído até ao dia em que voltou em paz.”2 Samuel 19:24
Importante notar que o lugar e o
tempo estão sempre presentes nas mudanças de hábitos e costumes, transformar
estas mudanças em doutrinas bíblicas pode ser considerado sacrilégios, pois
coloca o Espírito Santo como personalidade mutável por causa dos homens e sua
história. É muito fácil assim afirmar que o Deus dos Hebreus seria como todas
as outras divindades pagãs, criadas pelo homem e sua época, nada mais. Vemos também através destas passagens bíblicas que
utilizar-se dos textos bíblicos para validar pensamentos e ideias humanas como
doutrinas bíblicas demonstra falta de responsabilidade com o que é espiritual e ainda coloca em dúvida a credibilidade da
Doutrina e ensinamento de determinada denominação cristã, como também coloca em
dúvida o autor da doutrina, afinal às Escrituras Sagradas são escritos sérios e
verdadeiros e não escritos ainda em prova e testes para serem aceitos como
confiáveis.
Conclusão
Percebe-se que ao longo da
demonstração dos textos bíblicos, não se fez necessário o uso da exegese e nem
tão pouco regras complexas de hermenêutica bíblica, apenas simples observação dos
contextos das respectivas passagens bíblicas. Assim não dá para concordar com
tamanha negligência em atribuir uma proibição a algo que é de livre uso do
homem, e muito menos usar a desculpa de não se ter teologia para entender. O tema “USAR OU NÃO USAR BARBA” possui júri
fundamental ao seu favor a própria natureza e masculinidade.
Quando colocado ensinamentos
e ideias de homens usando textos bíblicos
para valida-los, sem análise e o mínimo
de respeito com o que diz a Palavra de Deus sobre o assunto é pecado e pecado
de acrescentar palavras à Palavra de Deus que já está fechada com todas as suas
doutrinas e ensinamentos que servem de regra de fé para os servos do Deus
Altíssimo. Pior é saber que muitos
outros ensinamentos são disseminados como Doutrina Bíblica e não passam de tradições
e costumes de homens. Ao se verificar a origem, vê-se que não procede das
Escrituras, ao se verificar o alcance, percebe-se que as fronteiras territoriais
derrubam muito rapidamente, pois não é a Palavra de Deus. Por fim, ao se
acompanhar o passar do tempo logo se constata que os ensinamentos que
defendidos como doutrinas são substituídos, pois já não servem para um povo de
outro tempo, pois não é a Palavra de Deus que dura para Sempre!
Presbítero
Israel Lopes